Guias

sábado, 31 de julho de 2010

Reflexões urbanas

Os noticiários e telejornais daqui e do resto do país estão diariamente repletos de trágicos acidentes ou de outras manchetes sobre a violência que contamina o meio urbano. Todo esse estresse do cidadão comum é um verdadeiro bombardeio que contamina a paz interior. A circulação de pessoas nas grandes cidades já é algo execrável, e quando isso acontece de modo caótico sob a flâmula da desorganização do trânsito se torna ainda mais evidente o nervosismo entre as pessoas. O estado de alerta é permanente para um pedestre ou ciclista. Algo precisa ser modificado através da esperança do voto. Não é mais possível se pensar em mobilidade urbana como vitória alcançada, mas sim uma recuperação do tempo perdido. Somente à beira do caos é que se tomam medidas paliativas e inconsistentes, sempre caras e recheadas de sacrifícios da população. Somente por meio de idéias sólidas e científicas, e não apenas paisagísticas, é que aliviaremos o momento presente com perspectivas futuras. Sem isso, estaremos condenados a reavaliar periodicamente os erros decididos intempestivamente. Vários políticos já enriqueceram ilicitamente com o dinheiro público sob a égide do transporte público e da mobilidade urbana. Enganando-nos, roubando-nos! A incompetência é histórica nesse país, vem de longuíssimas datas! Não podemos desperdiçar mais, não há mais vaga para esse tipo de comportamento do administrador público. É necessário que a revolução de bons gestores aconteça com a participação do povo consciente de suas reais necessidades. Entre as soluções necessárias para um melhoramento está a projeção integrada de trânsito e ocupação urbana sem demagogias e sem desvios técnicos a cada novo ciclo político de gerência. Garantir recursos a longo prazo é prioritário a qualquer empreendimento como este. A curto prazo se faz necessário o emprego de campanhas educativas através do estudo de controle do tráfego, já o transporte público necessita de reformulações concretas a médio prazo. Grandes estruturas precisam ter lugar no futuro. Menos carros, mais transportes coletivos, mais estruturas cicloviárias, menos estímulo ao transporte individual... Isso precisa estar na mente do cidadão no dia das eleições.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Máquinas ameaçadoras aumentam frota no país

No último dia 18 saiu uma matéria na Folha de São Paulo sobre o aumento da frota de motocicletas no país. Um dado citado, já evidente, foi verificar que a cidade de Mossoró está, infelizmente, na lista dos 150 municípios do país com maior proporção de veículos por habitante (34,8 veículos por 100 habitantes). São Caetano do Sul, a terra do automóvel, encabeça a lista. Outro dia citei aqui sobre a maior ameaça ao ciclista que encontro no trânsito da cidade que se chama “motociclista”. A opinião é particular e vivida nas ruas. O que parece frágil e relegado é, no fundo, uma arma de suicídio ou de assassínio que se espalha nas avenidas da segunda maior cidade potiguar. Antes, quero afirmar que tenho motocicleta desde os 18 anos de idade e sou feliz por todo esse tempo sem um único acidente, o que é raro! Hoje quase não a utilizo, nos últimos três anos já pedalei quatro vezes mais do que os quilômetros percorridos na motocicleta nesse mesmo período. No geral, a matéria traz dados interessantes. Segundo o Denatran, 46% dos municípios, onde vive um a cada quatro habitantes, têm uma frota de motos majoritária... E continua avançando sobre os grandes centros. O aumento da frota de carros no Brasil nos últimos cinco anos foi de 40%, menos de metade do ritmo de crescimento das motos -105%. Mesmo assim, há mais carros (35,4 milhões) do que motos (15,3 milhões) no país devido às grandes capitais. O aumento de motocicletas, analisa a Folha, é motivo de preocupação por ser vulnerável e provocar mais mortes em acidentes -além de mais poluente. ” Especialistas reconhecem a importância das motos para a mobilidade das pessoas. O resultado social, entretanto, é considerado negativo. O número de motociclistas mortos no país saltou de 725 em 1996 para estimativas acima de 8.000 no ano passado. O engenheiro e sociólogo Eduardo Vasconcellos cita dois agravantes da expansão desse transporte no Brasil. O primeiro é que, enquanto a população da Ásia sempre conviveu com muitas bicicletas, aqui as pessoas não sabem lidar com veículos de duas rodas -seja na travessia seja para se equilibrar. O segundo é a mistura de motos com caminhões e ônibus. "Não tem volta. É preciso reprogramar o trânsito." O engenheiro Cláudio de Senna Frederico, que já integrou um grupo de especialistas convidados pela UITP (associação internacional de transportes públicos) para traçar as diretrizes do setor para 2020 assim avalia: "A Europa é bastante motorizada. Mas tem uso mais disciplinado. Aqui temos a imagem equivocada do "direito de ir" e vir de carro." O ideal é que, mesmo tendo muitos veículos, a maioria da população não se locomova a todo momento com transporte individual -que polui mais, provoca mais acidentes e engarrafamentos. O caminho, diz Federico, é a recuperação do sistema de ônibus (corredores exclusivos, melhoria da velocidade, tarifa mais barata) para que ele deixe de perder tanta gente para as motocicletas. O segundo é a restrição à utilização de carros e motos -neste caso, com redução da velocidade, por exemplo. Uma coisa fiquem certos, fabricantes e montadoras desses veículos não estão nem um pouco interessadas nesses dados.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Os Riquixás


A palavra é de origem japonesa e significa veículo de tração humana de três rodas com engrenagens semelhantes aos da bicicleta. Esse modelo de transporte é bem antigo e alguns modelos desse transporte remontam do século XVII. Sua origem é questionada por muitos, o certo é que se trata de um veículo usado nos EUA, Inglaterra e muitos países da Europa e, claro, por toda a Ásia. A cidade dos riquixás é Daca, capital de Bangladesh. Acredita-se que o número por lá ultrapasse a casa dos cem mil riquixás. Com o advento da globalização econômica, esses veículos estão sendo cada vez mais substituídos por carros, motocicletas ou riquixás motorizados no restante da Ásia, menos em Daca. A arte decorada nos riquixás tem todo um charme e é de uma beleza impressionante. A decoração surgiu de forma criativa para concorrerem com os tomtoms, carroças que transportavam passageiros e mercadorias em Daca. Cada espaço do veículo é minuciosamente pintado e trabalhado como peça única. A topografia plana e os inúmeros becos estreitos incentivam a produção de riquixás em Daca. No Brasil não se encontra popularidade nesse tipo de veículo, mas algumas iniciativas já surgiram em algumas cidades.
Por exemplo, no Rio de Janeiro o empresário Silas Hernandes desenvolveu um projeto chamado “ecotáxi” a partir da idéia do riquixá. Nesse modelo brasileiro, há uma capota rígida e com capacidade para dois passageiros em trajetos curtos em torno da orla carioca. O interessante no uso dessa engenhoca é o aproveitamento de jovens carentes como puxadores de riquixás, tendo seu caráter social de emprego. A idéia já se espalha por outras poucas cidades brasileiras.

domingo, 25 de julho de 2010

Conhecendo o escafóide!

Foi por mera casualidade que a importância deste assunto veio à tona. Um amigo motociclista relatava sobre a importância no uso de luvas para proteção de suas mãos acrescentando que este acessório sempre lhe ajudou a minimizar traumas e danos em alguns acidentes sofridos. Entretanto, confessou ele, um dos grandes problemas sofridos em sua mão adveio durante um passeio de bicicleta em que estava sem luvas e, talvez por pura falta de sorte, fraturou o escafóide numa queda aparentemente sem gravidade. Certamente, nesse momento, as luvas não o impediria do traumatismo sofrido, mas poderiam diminuir os ferimentos na pele também ocorridos. Foram longos meses de recuperação com gesso, cirurgia e fisioterapia. Pois bem, tombos sempre podem acontecer e a primeira reação durante a queda é proteger-se do impacto ao solo com as mãos espalmadas. É nesse momento que sujeitamos esse pequeno osso da mão à sua sorte. Na verdade, mais da metade das ocorrências de fraturas dos ossos da mão se devem ao osso escafóide. Ele se situa na primeira fileira dos ossos da mão e bem próximo ao punho, qualquer fratura mínima se reflete por dor intensa com possibilidade de complicação quando não bem diagnosticada ou devidamente corrigida. Eis aí o grande problema! Os sintomas iniciais comumente são vistos como uma torção na articulação do punho, os raios-X nem sempre mostram de imediato a localização exata da fratura podendo resultar atraso na recuperação. Aliás, esse ossinho é muito pouco irrigado e isso dificulta sua consolidação. Como o objetivo aqui não se trata de esclarecimento técnico, mas de advertência numa hora necessária, acho importante que todo e qualquer caso de queda que apresente uma dor continuada na altura do punho seja levada ao conhecimento de um ortopedista com especialidade para o devido diagnóstico evitando assim seqüelas futuras.
 
FOTO MOSTRA PALPAÇÃO DA TUBEROSIDADE DO ESCAFÓIDE E A OUTRA LOCALIZA O OSSO FRATURADO

sexta-feira, 23 de julho de 2010

A Natal de 2014!

Os últimos três dias foram passados em meio aos ofícios do trabalho na cidade de Natal, capital potiguar! As poucas oportunidades de botar o olho na rua foram criteriosas na observação do transporte e circulação urbana. Costumeiramente essas visitas ocorrem umas quatro ou cinco vezes por ano, mas dessa vez a percepção da desorganização do trânsito foi mais evidente e provavelmente por se tratar de um período da alta estação. Fiquei imaginando aquilo na Copa do Mundo em 2014. O aumento de automóveis nas ruas é cada vez mais absurdo. O natalense parece usar o carro para tudo! As belezas da capital potiguar são impressionantes com seus morros de dunas já praticamente invadidos pelas construções, mas essa topografia em nada me agrada quando o assunto é mobilidade. Ruas e avenidas que se situam nos altos e baixos desses morros tornam a circulação de bicicletas e automóveis ainda mais complicados. Sinto-me cada vez mais feliz por morar numa cidade plana e menor! Os problemas urbanos bem que poderiam estar sendo planejados para daqui a quatro anos naquela cidade. Os congestionamentos serão os grandes problemas, mas sempre há esperança de algo melhor para o período pós-Copa. A Via Costeira de lá está sendo ampliada e beneficiada com uma ciclofaixa compartilhada na calçada de pedestres, achei uma boa idéia! Antes havia ali uma ciclovia horrível! É bastante extensa, mas está longe da serventia necessária aos usuários de bicicletas que precisam ir ao trabalho, por exemplo. Parece-me algo destinado apenas ao lazer, pois registrei apenas dois ciclistas num percurso de uns 8 kms realizados. Acredito na possibilidade de melhorias em decorrência do mega-evento que é a Copa, mas será preciso a intervenção das diversas camadas da sociedade para um melhor aproveitamento desses recursos em prol da população. É bom que se tenha em mente que o transporte interfere também na saúde pública, pois respondem por lesões decorrentes de acidentes de trânsito, problemas respiratórios, obesidade associada à redução da atividade física e perturbações causadas pelo ruído. Os grupos mais vulneráveis incluem crianças e idosos, bem como ciclistas e pedestres. O estímulo ao transporte coletivo e a redução de veículos circulantes é, certamente, a mais importante dessas ações.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Ciclos para reciclagem

Com a crescente utilização da bicicleta nos diversos segmentos do dia-a-dia, também cresce o descarte de peças e acessórios sem critérios. A reciclagem converte o lixo em algo semelhante ou diferente daquele produto em princípio. Vinte e cinco anos atrás pouco se falavam sobre produtos descartáveis ou recicláveis. De lá pra cá, o assunto vem se tornando cada vez mais atraente por várias razões comerciais até. Por este ângulo deixo aqui sugestões criativas e artísticas de como reutilizar velhas bicicletas e que podem ser vistas com mais detalhes no site da Bike Furniture Design. Vejam alguns exemplos nas fotos a seguir:





sexta-feira, 16 de julho de 2010

Onde deixar minha bike?

Imagine-se indo ao supermercado com sua bicicleta, procurando por aquele local mais adequado para guardá-la como habitualmente faz e ao retornar de suas compras se surpreende com a falta de sua magrela! Sua bicicleta sumiu e o que fazer? Essa situação foi vivida por Cristina de Melo que relata em Clube de Cicloturismo detalhadamente toda sua batalha jurídica para reaver seus direitos. Apesar dos resultados aparecerem após quase três anos, ela insiste para que ninguém desista da luta por seus direitos. Não é muito raro encontrar pessoas que desistem de sair pedalando para o centro da cidade, shoppings ou supermercados para realizar compras em virtude da insegurança do local. Observando pelas ruas centrais das cidades fica claro a ausência de bicicletários seguros e vigiados, daí só resta encostá-la em qualquer poste e acorrentá-la. Eu, por exemplo, não me arrisco nessa atitude! No mundo dos carros não há lugar nem para se guardar uma bicicleta em segurança. Portanto, ao estacionar sua bike tenha em mente as seguintes recomendações: Em primeiro lugar, a nota fiscal de sua bicicleta é um instrumento valioso para eventuais reclamações de direito. Segundo, tenha sempre fotos atualizadas de sua bike. Terceiro, sempre procure locais onde haja vigilância e, se possível, dotados de câmeras vigilantes(embora muitas vezes a empresa esconde imagens para dificultar a confirmação de sua bike estacionada). Quarto, não desperdice muito tempo ao deixar sua bicicleta largada solitariamente e longe de seus olhos. Quinto, procure utilizar peças de bloqueio seguras, sejam elas correntes, elos, cadeados ou outro método. E por fim, caso tenha sua bicicleta roubada em qualquer estabelecimento ou Shopping Center com estacionamento privativo, guarde sua nota de compra efetuada naquele local, efetue o Boletim de Ocorrência na Delegacia de Polícia mais próxima, fotografe o local do roubo e acione o Juizado de Causas Especiais para reparação de danos. Desta forma, o trabalho jurídico estará mais consolidado e facilitará seu advogado nas petições necessárias. No mais, sugiro que devemos estar atentos às manifestações em favor da criação de bicicletários seguros no comércio em geral. A indignação pública, neste tocante, é o que pode garantir mais respeito aos usuários.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A bicicleta no universo perdido!

É bastante constrangedor rodar pela cidade num automóvel e verificar ‘in loco’ as atitudes antipáticas de motoristas quando se deparam com ciclistas no trânsito. Já não bastassem as inúmeras deficiências das pouquíssimas ciclovias aqui existentes, ciclistas ainda precisam enfrentar a feroz impaciência dos condutores de veículos motorizados que se lançam sobre as frágeis bicicletas. A ótica do mundo para quem está dentro do carro é outra. Quem sabe deveriam os motoristas utilizar a bicicleta por um dia para refletirem sobre as dificuldades dos ciclistas num centro urbano?! No universo centralizado dos carros existe o conceito de reinado absoluto, inexorável! Não raro, é comum ouvir de alguns motoristas a frase “ciclista nem paga imposto pra circular”. Como assim? E os impostos que todos pagam por qualquer coisa só para beneficiar os veículos motorizados? Desculpe, mas não suporto ouvir esse absurdo idiossincrásico. Outra coisa que me irrita é ouvir de um ciclista eleitor a frase “roubou, mas pelo menos fez” quando se refere àquelas porcarias de ciclovias mal elaboradas e jogadas pela cidade. Coisa pública merece respeito e ciclista deve exigir qualidade de serviços que são pagos com nosso dinheiro. Achar que é ruim porque é público, aí está o erro! É a falta de fiscalização e denúncia do cidadão que faz o político desonesto roubar e pouco realizar. Como havia dito antes, sob a perspectiva da “caixa motorizada” comparo, de maneira melancólica, a bicicleta semelhante às presas frágeis e indefesas a fugir de seus algozes urbanos. Nesse universo injusto das máquinas pesadas que rolam sobre o asfalto se faz necessário uma maior organização de ciclistas e pedestres na luta por suas garantias.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

O totemismo do automóvel

Folheando artigos passados sobre mobilidade urbana, fui encontrar algumas coisas interessantes na revista CARTA CAPITAL datada de 2007. Para quem gosta de estar ‘antenado’ com assuntos sócio-econômicos do país, eis uma boa opção! Então, apesar de redigido há três anos é uma abordagem atualíssima e profunda que busca o entendimento da relação do automóvel com a sociedade moderna. O texto foi escrito por Antônio Luiz Monteiro Coelho da Costa (04/2007) com o título “O totem do capital” para a citada revista. Apesar do longo texto, solicito sua atenção para essa leitura.

O automóvel é um dos propulsores do desenvolvimento contemporâneo, mas a paixão desvairada por ele ameaça a natureza e a civilização !

Assim como os antigos sacrificavam colheitas, gado e até os filhos a ídolos e ícones aos quais seus sacerdotes atribuíam poderes imensos e uma profundidade insondável, a humanidade da era industrial sacrifica tempo, espaço, riquezas naturais e, às vezes, as próprias vidas a essas máquinas às quais os publicitários atribuem virtudes igualmente mágicas. Até as guerras empalidecem ante as estatísticas do trânsito, sem que isso inspire tanto horror quanto seria de esperar. Trata-se de sacrifícios humanos socialmente aceitos. No mundo, os acidentes matam 1,2 milhão de pessoas por ano e ferem ou incapacitam outros 50 milhões. O custo material dessas tragédias é 518 bilhões de dólares por ano - 65 bilhões só nos países periféricos, mais do que recebem em ajuda externa. Segundo a Organização Mundial da Saúde, são a segunda maior causa de mortalidade global dos 5 aos 29 anos (depois das infecções respiratórias para as crianças e da Aids para os jovens) e a terceira dos 30 aos 44 (depois da Aids e da tuberculose). Nos países ricos, são a primeira causa até os 44 anos. Do espaço disponível nas cidades dos EUA, 43% destina-se a ser usado não por seres humanos, mas por seus ídolos e algozes mecânicos: 33% para ruas e avenidas, 10% para estacionamentos. Considerando que há nesse país 770 automóveis por mil pessoas, pode-se dizer que cada carro dispõe de mais espaço para se movimentar do que cada pessoa dispõe para descansar, divertir-se, trabalhar e guardar o restante de suas posses. Como se chegou a isso?
Como atestaram o conto Mecanópolis de Miguel de Unamuno, em 1913, e a peça Robôs Universais Rossum, de Karel Capek, em 1921, assim como os filmes Metrópolis, de 1927, Alphaville, de 1965, Matrix, de 1999, e Eu, Robô, de 2004, o imaginário da civilização industrial é assombrado com cada vez mais freqüência pelo vago temor de máquinas a dominar ou a substituir a espécie humana. Na maioria das vezes, tais máquinas são imaginadas como robôs ou andróides invencíveis ou como computadores de inteligência sobre-humana. Entretanto, na medida em que essa ansiedade responde a algo de real, não se trata de verdadeiras máquinas autoconscientes, mas sim da característica do capitalismo de estabelecer relações de produção não de ser humano para ser humano, como nas antigas sociedades escravistas e feudais, mas por meio de objetos - de mercadorias cobiçadas como símbolo de status a máquinas usadas na produção. Assim como certas religiões transformam simples objetos - estátuas, símbolos, livros - em fetiches e ídolos com vontade e poderes próprios, o mesmo faz o capitalismo. O fetichismo ou personalização da mercadoria, núcleo do primeiro capítulo de O Capital, certamente não está entre os conceitos de Marx que se tornaram obsoletos. O mesmo pode-se dizer de sua contrapartida, a destituição do ser humano de si mesmo, sua coisificação: são tendências hoje muito mais irresistíveis do que eram em 1867.
Cada vez mais, o operário trabalha não para um patrão humano, mas para uma empresa impessoal que não parece ser mais que um capital, um amontoado de máquinas e outros ativos. Segundo o jornalismo econômico, decisões econômicas que podem conduzir uma nação inteira ao crescimento ou ao colapso não são tomadas por banqueiros e investidores poderosos, mas por um misterioso conjunto de papéis, telas e computadores chamado "mercado". Mais ainda, a se acreditar nos publicitários e nos gurus da auto-ajuda e da "psicologia evolucionária", o desejo é condicionado - não pela sociedade, mas pela própria natureza - a reagir menos às características físicas, afetivas e sociais do parceiro que às suas posses materiais.
O popular psicólogo David Buss é um desses que dão verniz científico ao senso comum das classes médias condicionadas a competir e consumir - mais precisamente, dos universitários estadunidenses que respondem às suas pesquisas. Afirma que as mulheres, de qualquer classe e cultura, valorizam em primeiro lugar as boas possibilidades financeiras do parceiro. Ou, como dizem portadores da mesma síndrome em terras bandeirantes, "quem gosta de homem é gay, mulher gosta é de 'karatê' - cara ter poder, cara ter dinheiro, cara ter carro". Como o poder só se faz evidente nas celebridades, como o saldo bancário não vem escrito na testa, como as roupas e os modos são indicadores cada vez menos confiáveis de condição social, o carro passou a ser, por excelência, o atestado visível e móvel de classe e riqueza - e, ao menos na fantasia de seus donos, também de direito ao amor, ao respeito e à inveja do próximo. Desde as primeiras transmissões de tevê e os primeiros salões de automóvel, os publicitários associam sistematicamente automóveis a belas modelos. A ponto de que, para o paulista, uma mulher desejável é uma "máquina" - um carro, é claro. Se for muito desejável, um "avião" - luxo para poucos, admite-se com um suspiro. No início da genealogia da cultura de ansiedade a respeito das máquinas talvez se possa pôr O Homem de Areia, de E.T.A. Hoffmann. Escrito em 1816, inspirou um famoso ensaio de Sigmund Freud, O Estranho (Das Unheimliche), e foi considerado o primeiro conto de ficção científica da história por Isaac Asimov, o autor dos livros que inspiraram Eu, Robô. Um professor de Física apresenta a filha Olímpia aos alunos. É bela, canta bem e presta muita atenção ao interlocutor, sem bocejar ou dar qualquer sinal de tédio ou distração. O olhar é vazio e a fala escassa - seguidos "ah, ah", de concordância, no final, um "boa noite, querido" -, mas isso deixa o protagonista ainda mais cativado por tal alma misteriosa e profunda, única a compreender seus sentimentos e elucubrações e aceitá-los sem restrições. Mas a amada vem a ser apenas um autômato - um robô, diríamos hoje - e a descoberta o leva à loucura. No conto de Hoffmann, só o romântico e perturbado Natanael se deixa seduzir pela máquina. Os colegas são iludidos pela aparência de vida e vêem a beleza, mas a aparente estupidez e inexpressividade os mantêm a distância e sua estranheza os amedronta. Hoje, ao contrário, unheimlich é não se deixar seduzir, não lutar pela(s) melhor(es) máquina(s) que a renda familiar permita manter.
Resultado: do consumo de petróleo nos países desenvolvidos, causa principal do aquecimento global que ameaça o equilíbrio ecológico e o futuro da civilização, os veículos representavam 42% em 1973. Em 2000, sua participação havia aumentado para 58% e essa porcentagem tende a aumentar. Hoje, o consumo de petróleo na indústria e na geração de eletricidade é relativamente estável e a maior parte do crescimento da demanda está relacionado aos transportes. Não se trata apenas da operação do veículo propriamente dita: esta representa dois terços do consumo, mas outro terço está relacionado à fabricação e manutenção dos veículos e à construção de infra-estrutura (ruas, estradas, estacionamentos, postos de serviços) para possibilitar o seu uso. Na maior parte (85%), isso significa transporte sobre pneus: ferrovias, navios e aviões representam só 15%. Por trás da magia dos fetiches e do discurso publicitário da elegância e da aerodinâmica, o automóvel é um meio de transporte extremamente ineficiente. Apesar dos aperfeiçoamentos introduzidos desde o choque do petróleo dos anos 70, só 12% do combustível produz movimento útil. O resto é perdido pelo sistema de refrigeração do motor ou desperdiçado em escapamento, freagem ou atrito no motor, transmissão e eixos. Da energia posta em movimento, talvez 5% a 20%, dependendo do veículo e da ocupação, é para transportar pessoas e seus pertences: o resto movimenta a própria massa do carro. Noves fora, um carro é 1% transporte e 99% desperdício e exibição. Em sua primeira visita à Terra, um extraterrestre pouco sofisticado poderia julgar que o automóvel é a espécie dominante do planeta e que os humanos são seus escravos, sem fazer muita distinção entre culturas. Na verdade, há graus de devoção: europeus e asiáticos são mais comedidos. Satisfazem-se com carros menores e investem muito em transporte coletivo, criando e mantendo eficientes e velozes trens de passageiros e amplas redes de transporte metropolitano. Já os americanos - estadunidenses, sobretudo, mas também os brasileiros mais remediados - entregam-se ao culto sem reservas e procuram reprimir as heresias. Salvo por melancólicas estações de subúrbio, os trens de passageiros foram abolidos ou relegados a museus. Os metrôs, quando existem, são embrionários. Mesmo o transporte público sobre pneus é lento, precário, como se fosse o caso de condenar ao inferno aqueles que não pagam o dízimo à verdadeira religião. Nos anos 90, o tempo médio em uma viagem de casa ao trabalho era de 51 minutos no Rio de Janeiro, ante 36,5 minutos em Nova York e 35 em Paris, mas para muitos dos mais pobres, o suplício dura, ainda, até três horas. A classe média motorizada escapa dessas penas mais cruéis para o purgatório dos engarrafamentos e rodízios. O céu, claro, é dos ricos e de seus helicópteros.O carro pode ser uma fantasmagoria enquanto corporificação de impulsos eróticos desviados e a suposta liberdade de movimento que promove é desmentida a cada semáforo e a cada congestionamento. Entretanto, seus efeitos destrutivos sobre a natureza são bem reais. Como também seus efeitos construtivos em relação ao capital. Do fim da Primeira Guerra Mundial aos nossos tempos, a história do capitalismo pode ser dividida em dois períodos: a era do fordismo e a do toyotismo.
Nos anos 20, Henry Ford provocou a maior revolução nos métodos de produção, gestão e regulação do capitalismo desde a invenção da máquina a vapor. A organização racional do trabalho, com otimização e controle minucioso dos tempos e métodos gastos em cada operação, havia sido proposta e implementada pelo engenheiro Frederick Taylor em 1911, mas dependia muito de fiscalização e supervisão por intermediários. De um só golpe, a linha de montagem de Ford deu forma material e objetiva ao controle e o tornou praticamente automático. Em vez de ser simplesmente apressado pelo contramestre, o operário tinha de correr para acompanhar o ritmo da esteira, como Carlitos em Tempos Modernos. Ford não se satisfez com o controle absoluto do processo produtivo em suas fábricas: pretendeu também moldar a sociedade e em certa medida o conseguiu. Para viabilizar fábricas na escala necessária para produzir automóveis em ritmo de linha de montagem, abriu mão do controle direto pessoal do capital e deu impulso à multiplicação das sociedades anônimas que na época ainda eram exceção, mas hoje respondem pela maior parte da economia. Enquanto o aumento de produtividade reduzia o preço do produto, Ford conscientemente melhorava a remuneração de seus empregados em relação aos padrões da época e os incentivava a adquirir seus automóveis, dando a partida ao modelo de crescimento que respondeu pelos ?anos dourados? do capitalismo do pós-guerra ao se espalhar por todo o mundo industrializado ou em vias de industrialização, uma vez que os governos compreenderam a natureza do novo processo e começaram a aplicar as ferramentas keynesianas adequadas à sua coordenação e regulação em escala nacional.
Na versão tropical desses já velhos bons tempos, Juscelino Kubitschek fez o Brasil mergulhar de cabeça na revolução fordista. No início dos "50 anos em 5", havia apenas um punhado de veículos importados e uma só estrada asfaltada de extensão razoável, a via Dutra. Ao final, várias montadoras estadunidenses e européias estavam instaladas no ABC paulista, cujos produtos podiam, bem ou mal, rodar o país de Belém ao Chuí. Entretanto, as ferrovias, embora tivessem ainda destaque em seu Plano de Metas, foram praticamente abandonadas - e a ditadura militar não fez mais do que aprofundar esse modelo montado, no qual o Brasil se tornou o maior pólo industrial da América Latina, deixando para trás pioneiros como o México e a Argentina. Nem todas as idéias de Ford foram igualmente bem-sucedidas. Com o objetivo de eliminar a embriaguez, reduzir as faltas ao trabalho e aumentar ainda mais a produtividade, deu um apoio à proibição do álcool que foi decisivo para a vitória da Lei Seca, mas o resultado, como se sabe, foi uma catástrofe social. O excesso de puritanismo de Ford foi-lhe contraproducente também em outros aspectos. Por ver o carro sob o aspecto funcional, e padronizar ao máximo para baratear seu custo ("Você pode ter seu modelo T de qualquer cor, desde que seja preto"), deixou de explorar todo o potencial do automóvel como símbolo de distinção social e fetiche erótico. Coube à General Motors descobrir esse filão e tomar a liderança. Ainda assim, Ford fundou a sociedade de consumo. Se Lenin foi um grande admirador de Taylor, Stalin teceu elogios ainda maiores aos métodos de Ford. O escritor Aldous Huxley chegou a imaginar que a revolução fordista duraria para sempre e acabaria por absorver tanto o capitalismo liberal quanto o socialismo: seu Admirável Mundo Novo, escrito em 1932, passa-se no ano 632 d.F. (depois de Ford), quando as pessoas, em vez do sinal-da-cruz, fazem um T. A era Ford, porém, não durou tanto: a partir dos anos 70, o acirramento da competição internacional pôs abaixo o modelo de planejamento em escala nacional, no qual se podia confiar que praticamente todos os aumentos concedidos aos trabalhadores seriam gastos em produtos nacionais e engordariam o lucro e o capital dos seus empregadores. Juntamente com as crises do dólar e do petróleo, também desmontou a expectativa de que a modernização e o crescimento econômico avançariam, qual linha de montagem, em ritmo previsível e planejável. Voltada para o mercado externo e pronta para reagir imediatamente a mudanças de conjuntura e de preferências, a grande indústria esforçou-se para livrar-se de seus operários, reduzir seus salários e adotar sistemas de produção mais flexíveis e adaptáveis, enquanto governos e organizações multilaterais davam atestado de óbito ao keynesianismo e aderiam ao neoliberalismo selvagem. Mais uma vez, porém, as montadoras deram o mote e o nome à nova fase do capitalismo: trata-se agora de toyotismo. Mudaram os ritos e os profetas, não os deuses.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Onde estão as bicicletas?

Documentário de excelente qualidade na versão de língua espanhola mas perfeitamente compreensível, vale conferir!

domingo, 11 de julho de 2010

Curiosidades do sistema de transporte urbano alemão

A cidade de Frankfurt na Alemanha é dotada de uma rede de transportes urbanos que facilita a vida do cidadão. Uma grande contribuição ao sistema é a inserção da bicicleta nesse conjunto para, entre outros propósitos, reduzir a necessidade da utilização do automóvel na área metropolitana. Milhares de bicicletas padronizadas estão regularmente estacionadas em setores estratégicos: estações de metrô, ônibus, trens e outros lugares públicos. Elas fazem parte do sistema alemão “call a bike” ( www.callabike.de ). Os usuários que pretendem utilizar o sistema entram no site, realizam um cadastro, inserem os dados do cartão de crédito e após a confirmação dos dados estarão, dessa forma, habilitados a retirar a bicicleta necessária. O sistema é válido tanto para alemães quanto para estrangeiros. Sendo assim, o cidadão diante de sua bicicleta escolhida liga para a central e informa o número da bicicleta, caso esteja livre para utilização é só inserir a senha no minicomputador touchscreen situado na traseira da bike e ela é imediatamente destravada. Para se utilizar o dia todo, por exemplo, o preço gira em torno dos nove euros. Para devolução é necessário apenas fazer logout no minicomputador e deixá-la nos cruzamentos indicados. Isto sim, parece ser tecnologia eficiente!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Experimente pedalar!

A simplicidade da vida se traduz por atitudes que se situam abaixo das propagandas mercadológicas, e isso jamais vai gerar divulgação nos mais diversos jornais, revistas ou canais de televisão. Se a lógica do consumismo é o lucro, a bicicleta e seu uso sempre estarão fora dos planos capitalistas que se preocupam unicamente com seu bolso. A utilização da bicicleta está associada aos conceitos mais simples da física mecânica e impele o usuário a desfrutar de um estado de espírito único. Pedalar associa o movimento corporal suave com a paisagem ambiental sem agressão ao corpo ou ao meio em que está inserido. Pedalando sentimo-nos como é ser o que é, e nos retiramos da órbita do que se precisa ter. Para quem ainda jamais aprendeu a pedalar, essa é a hora. Só uma atitude gera novas perspectivas ou mudanças, não se permita inúmeras desculpas entre a realidade e o sonho de transformação. Bicicletas antigas ou modernas, baratas ou caras, bonitinhas ou bonitonas, todas permitem o conceito de liberdade e dinâmica corporal que promovem um bem-estar espiritual ímpar. Mudança de hábitos ou de novos olhares envolve coragem e amor a si próprio, portanto sinta-se à vontade para realizar suas próprias escolhas e experiências. Aprecie mais a natureza, coloque pra fora o sorriso em coisas simples, sonhe mais com sua qualidade de vida, encare suas decisões e nunca desista de admirar o que está além das montanhas. Apaixone-se por uma bike sem preconceitos e explore suas utilidades, essa relação de amor vai te dar alegrias que o dinheiro não compra!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Bicicleta: Objeto ou Veículo?

Naturalmente todos ou quase todos responderíamos que a bicicleta é um veículo, inclusive reconhecido pelo Código de Trânsito Brasileiro. Mas há quem a considere um mero objeto de uso pessoal, sem direitos ou benefícios. Não seria difícil enumerar uma lista de pessoas ‘inimigas’, mas vou citar apenas um exemplo de local onde isso fica bem claro: estacionamento de condomínios. Com o crescente desenvolvimento imobiliário aqui na cidade, não fica difícil encontrar amigos que optaram por uma nova residência em apartamento e se depararam com o problema de garagem para suas bicicletas. Muitos condôminos a vêem como entulho que desarmoniza a paisagem do prédio, ou simplesmente querem justificar a garagem como o lugar onde se deve apenas guardar carros porque só o automóvel deve ostentar e ornamentar uma garagem de condomínio. Para quem nunca teve sua moradia em apartamento não pode imaginar uma coisa dessas, mas é a pura realidade em muitas cidades para quem optou viver em apartamento. Felizmente hoje resido em uma casa e estou longe dessas baboseiras, porque não dizer ‘abacaxis’. Acontece que são conflitos que precisam ser resolvidos antes mesmo daqueles outros verificados nas ruas, pois problemas em casa devem estar em primeiro plano dessa lista, não é mesmo?! Então, os usuários de bicicleta que têm em vista um condomínio em sua vida devem, em primeiro lugar, consultar o projeto para exigir a criação de um biciletário( o melhor é tipo jaula) nos casos da compra de apartamentos novos. De outro modo, quando o apartamento já está construído se deve estudar a possibilidade dessa modificação antes da entrada pelos moradores. Mas se o condomínio já é antigo, é melhor consultar antes sobre as convenções de condomínio para evitar atritos futuros. A questão fica complicada se a aquisição da bicicleta vem depois do apartamento, pois vai depender de muita força de persuasão junto aos condôminos quanto às modificações necessárias para se ter a bicicleta bem guardada e protegida. Fica aí o alerta!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Educação para o trânsito!

Quando criança ouvimos frase do tipo “Menino, deixe de ser malcriado!” , mas o tempo passa, as palavras ficam ecoando por nossa consciência e percebemos que nossas atitudes respeitosas celebram o bom convívio social. No trânsito não é bem assim! O que se percebe é que cada vez mais o entupimento das vias urbanas por automóveis deixa todo mundo com os nervos à flor da pele. Raros são os usuários de veículos automotores que saem de suas casas desarmados de espírito para enfrentar o caos urbano nas ruas e avenidas. Ao utilizar a bicicleta identificamos com mais perspicácia essa ‘loucura’ motorizada, talvez até pela própria condição de expectador e observador que adquirimos durante nossas pedaladas. Logicamente que diversos fatores interferem no comportamento individual do motorista, mas nada justifica a conduta incongruente e anti-social. Minha experiência pessoal identifica, à distância, os principais nervosinhos do trânsito. Normalmente em função da hora do dia, os irritadinhos são aqueles que cedinho transportam seus filhos para a escola e os moto-taxistas (aqui tem aos montes) que procuram desesperadamente seus fregueses. Aliás, os motociclistas como um todo são os que me metem mais medo por realizarem irresponsavelmente inúmeros malabarismos. De maneira contrária, os veículos pesados em vias urbanas parecem até mais corteses do que todos os outros, mas aí não se incluem os ônibus... fique claro! Se a circulação se dá no centro da cidade, a coisa complica. É ali que todos forçam passagem e disputam cada centímetro de asfalto como se fosse sua maior conquista. E a bicicleta passa silenciosa e sempre! Alguns nem a percebem porque estão demasiadamente hipnotizados com sua paranóia metropolitana. A irritação é transparente em cada rosto solitário ao volante e faz ressurgir o menino malcriado que se carrega em seu âmago. Pobres homens! Seria bom que fosse diferente? Claro que sim! Mas a educação começa muito antes do primeiro momento na direção de um carro. Ser cortês com o próximo se inicia no berço do lar, com o respeito familiar e com a orientação dos mais sábios da família. Ser cortês no trânsito se inicia com a solidez do caráter e com a alma solidária em respeito à vida.

sábado, 3 de julho de 2010

Valdo na bike !

Hoje haveria de estar aniversariando em vida alguém marcante numa fase de minha história. Sinto ainda uma profunda saudade daquele que sempre me enviava por seus e-mails palavras de simplicidade, coragem e determinação em suas andanças pelo mundo afora. Em sua bicicleta carinhosamente denominada ‘tanajura’, ele irradiava energia pelos caminhos por onde andava. Sua idade avançada jamais foi uma dificuldade, mas um desafio. É estranho como a história passa de um lado da vida para o outro sem um adeus preparativo, talvez seja essa a parte misteriosa que separa as dimensões dos mundos. Para os que não o conheciam, o Valdo foi um cidadão brasileiro que teve em sua trajetória de vida a passagem missionária na igreja católica, mas sua alma era liberta demais para um confinamento ideológico religioso, entretanto, mesmo com seu desligamento, jamais deixou de continuar sua missão de paz, evangelização e solidariedade. Homem determinado, coração límpido, de alma libertária, ele sempre realizava suas andanças a pé ou de bicicleta. Percorreu muitos quilômetros em sua bike por vários países, mas estava determinado numa volta em torno do planeta em sua bicicleta reclinada. Sua viagem iniciada em março de 2009 no Estado de Santa Catarina foi interrompida no começo deste ano por seu falecimento numa cidade mexicana bem próxima já aos Estados Unidos. Lembro-me da triste notícia chegada através do site que ele mantinha para o diário de bordo, como se fosse hoje! Apesar de tudo, permaneci com todos seus relatos enviados religiosamente via e-mail e, vez por outra, ainda os releio com grande admiração. Senti-me órfão, apesar de nunca tê-lo visto pessoalmente. Mas são essas coisas que fazem parte de nossa história, de nossa saudade!